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Friday, January 12, 2007

O atirar da primeira pedra - do livro Uma Antilogia, UFPA, 2002

devoro a asa
em vôos
viajo

volto um dia
e enterro o medo de partir


daqui não volto mais
invólucro-pedra

atirar-me ao abismo
ao eco
ao aço das paredes
ao abraço de minhas asas

retirar-me dos lugares
entre raízes
ser como as folhas.

um dia sem a mesma sensação
dei-me à esmo pelos caminhos mortos
fiz a ponte
fiz da primeira pedra
atirar-se do rio como suicida
atirar-se bem longe
sem mira
para poder ter
o domínio
das mãos
tirar de perto a origem
a miragem do moinho
a moer grãos
de um passado liqüefeito



nunca mais
viver de passagens
viver de miragens do mundo
viver de grãos

nunca mais.

1 comment:

Anonymous said...

"nunca mais
viver de passagens"

(...) "é de rio estar de passagem" (joão Cabra de Melo Neto)