O atirar da primeira pedra - do livro Uma Antilogia, UFPA, 2002
devoro a asa
em vôos
viajo
volto um dia
e enterro o medo de partir
daqui não volto mais
invólucro-pedra
atirar-me ao abismo
ao eco
ao aço das paredes
ao abraço de minhas asas
retirar-me dos lugares
entre raízes
ser como as folhas.
um dia sem a mesma sensação
dei-me à esmo pelos caminhos mortos
fiz a ponte
fiz da primeira pedra
atirar-se do rio como suicida
atirar-se bem longe
sem mira
para poder ter
o domínio
das mãos
tirar de perto a origem
a miragem do moinho
a moer grãos
de um passado liqüefeito
nunca mais
viver de passagens
viver de miragens do mundo
viver de grãos
nunca mais.
1 comment:
"nunca mais
viver de passagens"
(...) "é de rio estar de passagem" (joão Cabra de Melo Neto)
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