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Tuesday, December 10, 2013
a ponte do galo
agora mesmo
passou por aqui
o carroceiro -
trazia garrafas
tão sujas
da poeira da vida -
ávido
pelo olhar do tempo
a nuvem
quase caía
cinza
no chão de madeira
da carroça -
a fêmea que apanhava
era a bela e antiga -
a égua branca -
ela cagava sombria
quase correndo
por um corredor de lama -
da ponte
o último suspiro -
pedia água
à chuva -
pedia sonhos
aos deuses -
corria pelos pântanos da noite
às dores
de suas coxas suadas -
cansada -
ferida e triste -
recebia a surra merecida -
agora mesmo
passou por aqui
o carroceiro -
o chicote na mão
agarrado ao fêmur
da madeira -
na ponte do galo
há um rio
que morre
embaixo
de suas pernas -
na ponte do galo
há um monte
de almas penadas -
agora mesmo
passou por aqui
o carroceiro -
trazia carcaças
de um portal
enferrujado -
da ponte do galo
a chuva limpa
o mundo -
e nada mais se vê
dessa rotina -
nessa neblina
imunda de injustiça.
J.L. dez. 2013
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